Vera estava na Rua da Consolação. Carros e ônibus trafegavam nas duas mãos.
Nas calçadas havia muitas pessoas caminhando e nas lojas o movimento era grande.
De repente, Vera ficou parada e boquiaberta. Ela não podia acreditar no que estava vendo. Clara, sua irmã que falecera há pouco tempo passeava normalmente entre as pessoas.
Vera correu para alcançar a irmã e perguntou -“ O que você está fazendo aqui; você deveria estar no outro mundo!” Clara começou a correr e Vera atrás dela até chegar no mercadinho do Sr. Adão que fica na esquina da Rua Caio Prado, onde ela tinha visto a sua falecida irmã entrar. Porém ela tinha desaparecido.
Vera ficou confusa e procurou entre as gondolas repletas de produtos alimentícios… e nada encontrou, sua falecida irmã tinha desaparecido de repente.
Depois de alguns segundos, Vera acordou do seu estranho sonho. Tudo que lhe pareceu tão real se desfez como o fazem os sonhos.
O resto da noite ela ficou se virando na cama de um lado para o outro, sem conseguir dormir.
Então já acordada começou a pensar sobre o estranho sonho e o que poderia significar. Será que tinha algo de verdadeiro ou simplesmente um sonho de bobagens? Poderia ser alguma profecia?… Como descobrir? Quem poderia responder? Porque Clara correu e porque desapareceu justo naquele lugar?
O dia já estava claro e ela resolveu ir ao local sonhado. Talvez pudesse encontrar alguma pista sobre a mensagem do sonho.
Ela saiu de casa e chegou à rua que começava a acordar com o movimento dos carros, caminhões, motos e os ônibus. Pessoas andavam apressadamente, peruas escolares paravam para recolher as crianças. Imagens comuns de todas as manhãs, desta vez reais.
Então parou para pensar: e a sua irmã, o que ela tinha a ver com esta cena?
Foi pensando que ela começou a caminhar em direção à esquina da Rua Caio Prado. Sem se dar conta, ela parou justamente na frente do mercadinho do Sr. Adão. Ela parou muito surpresa. Seu irmão também estava lá pensativo.
-“Bom dia… O que você está fazendo aqui?” perguntou ela. Seu irmão morava longe e não tinha nada para fazer alí.
– O que “você” está fazendo aqui a esta hora?” disse ele ainda mais admirado.
– Afinal, qual o motivo que o trouxe até aqui?” insistiu Vera
– Eu pergunto a mesma coisa” reclamou ele.
-“Eu sonhei com a Clara” disseram os dois ao mesmo tempo.
A continuação da conversa dos dois foi ainda mais surpreendente. Os sonhos dos dois foram iguais. Aquela conversa dos dois parecia outro sonho estranho.
-“… e ela desapareceu aqui neste mercadinho”, foi a ultima frase dos dois relatos.
Depois de alguns momentos, se entreolharam neste clima de mistério e entraram no mercadinho.
Se aproximaram do Sr. Adão que estava ocupado com as contas atrás do balcão.
-“Bom dia. O senhor conheceu Clara Berg?” perguntaram os irmãos.
-“Não, quem é ela?” respondeu o homem, sem parar de digitar os números na calculadora.
-“Ela é nossa irmã e faleceu há pouco tempo. Respondeu Vera.
Eles contaram todo o sonho e o homem olhou para eles desconfiado.
-“Desculpem mas eu não sei quem ela é. Não me lembro de nenhuma cliente com este nome.
-“Procure, por favor” pediram os irmãos “Olhe nos seus registros, talvez o Senhor encontre alguma coisa entre as anotações.
O homem ficou comovido com toda história e com a expectativa dos dois irmãos.
Apesar de estar muito ocupado, foi procurar nas fichas de clientes.
-“Não achei nada. Sinto muito” disse ele depois de alguns minutos de espera.
-“Por mais que eu tente, não me lembro de nenhuma devedora com este nome.”
-“Mas tem mais cartões de clientes?” insistiram eles.
-“Infelizmente não tenho” respondeu “Mas, pensando bem,… eu tenho cartões muito antigos arquivados. Posso procurar lá também.”
Ele enrugou a testa enquanto pensava onde tinha guardado o arquivo antigo.
Então, numa gaveta empoeirada encontrou as fichas e começou a verificar uma por uma cuidadosamente até que encontrou o nome de Clara Berg.
-“Achei! Sim, sim! Aqui consta que ela me deve duzentos e setenta e quatro reais.” Disse ele. “Uma divida antiga que ainda não foi paga.”
Totalmente chocados, os irmãos começaram a revirar os bolsos para entregar a quantia àquele senhor que os olhava sem muito entender. Então entregaram o valor ao Sr. Adão.
A dívida estava liquidada e saldada!
Os irmãos trocaram olhares e sorrindo despediram-se, cada qual seguindo o seu caminho.
“Que grandes méritos possuía Clara para poder aparecer em nossos sonhos” pensou Vera. Ela ainda estava muito perturbada com tudo que tinha acontecido. e não conseguia se acalmar.
“Não são todas as pessoas que conseguem passar uma mensagem como esta!”.
E quem sabe quantas dividas esquecidas nós temos. Cada um de nós, por aí? Valores pequenos ou grandes que devemos a outras pessoas e que acabam no esquecimento. Mas ter o mérito de quitá-las, não são todos que têm.