Raquel era uma menina de 11 anos que estava passando alguns dias com os pais e a irmãzinha num hotel fazenda em Nazaré Paulista no Vale do Paraíba. O hotel ficava um pouco afastado da cidade e havia lá perto uma pequena floresta com árvores e muitas flores pequenas espalhadas pela grama. Era uma paisagem muito linda.
Um dia, Raquel saiu para passear com a irmãzinha no seu carrinho e pararam em frente a uma árvore bem alta na entrada da floresta. Raquel estava brincando com a irmãzinha quando de repente apareceu um bando de rapazes e moças. Não eram do hotel, talvez de alguns bairros próximos de lá. Eram selvagens e barulhentos.
Logo que a menina os avistou ficou assustada. Não havia onde ir e então ela resolveu subir na árvore e lá se esconder. Mas eles perceberam e correram na sua direção. Raquel já tinha subido bastante quando percebeu que tinha deixado a irmãzinha embaixo, no carrinho. Eles se aproximavam rápido, cercaram a árvore e começaram a agitá-la.
O tronco da árvore era fino e por isso balançava de um lado para o outro e Raquel se agarrava a ele com todas as suas forças para não cair, chorando e pedindo que parassem. Mas, para aqueles selvagens era apenas uma boa diversão, eles não deviam saber o que faziam, mas para a menina era um risco de vida.
Embaixo, a irmãzinha chorava e estava em prantos; as moças a balançavam como se fosse uma boneca.
Então apareceu um menino de uns 12 ou 13 anos. Ele correu em direção ao bando e pediu a eles que parassem com aquilo. A resposta foi que um dos rapazes lhe deu chute dizendo –“Desapareça daqui! Isso não é da sua conta!
O menino olhou para Raquel e percebeu o pavor nos olhos dela.
-“Vá, chame ajuda!” gritou ela enquanto os outros balançavam a árvore.
Os selvagens riam e um deles disse animado –“Ela não aguentará, vai cair a qualquer momento!”
Então o menino tentou atrapalhar chutando as pernas e puxando a camisa dos rapazes que davam socos nele. Num certo momento o menino mordeu a mão de um deles que gritou e ameaçou: – “Isso vai te custar caro”!
Foi aí que todos foram por cima do menino. Ele tentou fugir fazendo sinal para ela descer da árvore. Mas os rapazes o seguraram e passaram a bater nele com uma tábua. Enquanto isso Raquel desceu da árvore, pegou a irmãzinha e correu para o hotel, onde pediu ajuda. O socorro foi até o local.
Depois de algum tempo voltaram carregando o corpo do menino ensanguentado. Raquel quis se aproximar mas a mãe não deixou e a mandou para o quarto descansar.
Mais tarde disseram-lhe que o menino tinha ido para um hospital e que ele estava apenas ferido.
Alguns anos se passaram, Raquel cresceu, tornou-se uma linda moça, mas nunca esqueceu este episódio.
Quando completou 19 anos os pais começaram a lhe apresentar pretendentes para casar.
Mas os pretendentes não tinham sucesso porque Raquel era muito exigente. E assim foi durante 4 anos. Raquel já estava com 23 anos e os pais estavam preocupados..
Certo dia, os pais propuseram a ela conhecer um rapaz. As informações sobre ele eram excelentes. Ele tinha 26 anos. Raquel não entendia o por que um rapaz de boa família, inteligente e bonito ainda não tinha encontrado uma noiva.
Então, apresentação aconteceu e Raquel logo entendeu a razão dele ainda não ter encontrado uma noiva. Era realmente muito especial, inteligente, esperto, simpático e também alto e bonito, porém tinha uma horrível cicatriz no rosto. Uma cicatriz repelente que começava no olho e chegava até o queixo. Um rosto bonito e delicado – e aquela cicatriz estragava tudo.
A resposta de Raquel naturalmente foi NÃO. Mas os pais insistiram e pediram –“Tente novamente, talvez você se acostume”.
Raquel então se encontrou mais algumas vezes com ele e ficou entusiasmada com a sua personalidade, mas sempre aparecia a cicatriz que estragava tudo.
Com certeza isto também devia ter acontecido com as outras moças que tinham saído com ele. Elas se entusiasmavam com o ser humano, mas a cicatriz afugentava todas.
Depois de cinco encontros, ele disse que gostaria de se casar com ela se tudo corresse bem dali em diante.
Raquel começou a gaguejar e dar algumas desculpas confusas, disse a ele que era um ótimo rapaz, mas os olhos se fixaram na cicatriz.
-“Eu sei o que significa o “se” e o “mas” disse ele. – ‘Se você não conseguiu superar agora, então nunca vai superar”.
Raquel ficou em silencio e não sabia o que responder.
Enquanto caminhavam em direção à estação do metrô ela de repente perguntou: -“Como foi que você ganhou esta cicatriz ?”
-“É uma longa história.” Disse ele. “Eu tinha 12 anos e uns cinco rapazes me bateram com uma taboa. O problema é que havia um prego preso nela e foi ele que rasgou o meu rosto… Nem sei porque estou lhe contando isso, você vai pensar que sou provavelmente uma pessoa briguenta”.
Raquel ficou pálida. E perguntou –“Onde foi isto?” Ele então disse o nome da cidade. –“E como foi que você chegou lá? “ – “Meus tios estavam lá e nos fomos visitá-los. Havia um bosque, tipo floresta, e lá alguns jovens estavam maltratando uma menina pequena e eu só tentei ajudá-la para que pudesse fugir. Quase me mataram com seus golpes. É isso. Eu já tinha conseguido esquecer tudo, mas você sabe, nesses encontros eu sempre relembro o que aconteceu.” Ao dizer estas palavras seus olhos ficaram úmidos. Ele estava lutando para não chorar. E conseguiu, mas Raquel não.
Ela caiu em prantos, chorando e soluçando. O rapaz só ficava olhando perplexo, sem entender.
Finalmente sentaram num banco e Raquel conseguiu contar a ele que a menina que ele salvara era ela. Ele não acreditou. Pensou que ela estava brincando. Mas ao acrescentar vários detalhes a esta história Raquel mostrou a ele que era pura verdade.
Não há palavras para descrever a felicidade que Raquel sentiu naquele momento.
De repente todas as dúvidas sumiram e a cicatriz que a fizera dizer “não”, foi a mesma que a fez dizer “SIM”.
Naquela mesma noite decidiram se casar e viver feliz.
Então Raquel agradeceu a Deus pela cicatriz do marido, pois fora ela que o tinha guardado todos esses anos somente para ela.
História verídica adaptada