Cheguei na Estação Rodoviária do Tiete. Muita gente… um zum zum zum.. pessoas vindo, indo, carrinhos, malas com rodinhas, um turbilhão muito agitado e constante … De longe avisto finalmente o guichê de passagens. Uma fila… crianças, senhoras, rapazes e … não vejo nenhum sênior. Sou a única velha da fila. Tento me fazer respeitar e aproveitar a tal da preferencial da terceira idade… mas aqui não funciona… Todos estão estressados e cada um quer ser o primeiro da fila. De repente, surge não sei de onde, um rapazola de túnica amarela onde se destaca um crachá com o nome da companhia. Timidamente el chega para perguntar de voz baixa -“Alguém vai pagar com cartão?”. Eu me adianto pensando “é aí que passo na frente de todos”. O jovem sorri ao me ver nervosa. -“Fique calma senhora, eu a levo até lá, não precisará esperar”. Ufa, que alivio. Ele, gentilmente me ajuda e se encarrega de levar a mala; eu respiro mais aliviada! Lá, no final do corredor abre-se uma porta de vidro e ingresso numa sala repleta de caixas automáticos, são dez ao todo, Cinco de cada lado. No fundo, um balcão onde duas moças uniformizadas se revezam para atender viajantes.
O rapazola Lucas, pergunta o meu itinerário. Eu digo Campos do Jordão e pergunto se o ônibus para antes de chegar ao seu destino. Lucas não parece ter muita experiência. Ele interpela uma das moças de uniforme -“Sim, em Aparecida” . Então se dirige a um dos caixas e começa a digitar. Eu não entendo nada! A máquina vomita vários comprovantes; comprovante de viagem, de seguro, do cartão, cópia do comprador, cópia do vendedor, é muito papel que ele me entrega sorridente. Verifico os ‘tickets’ . Não, não pode ser…. eles indicam como destino Aparecida… e já está tudo pago… Solto um oh, seguido de ai e desesperada já começo a imaginar o pior… Em meio a este turbilhão de pessoas e de máquinas, o que é que vou fazer em Aparecida!!!! Mas então vem a moça de uniforme, no crachá o seu nome Graciele. -“Está tudo bem Lucas, eu faço o estorno e emito nova passagem”. Lucas se confundiu, ouviu Aparecida e esqueceu Campos do Jordão. Graciele é muito gentil, e permite que eu fique sentada ao seu lado enquanto digita o estorno num pequeno computador. Finalmente, após 45 minutos está tudo corrigido. Graciele riu muito me assegurando que, rezar em Aparecida, certamente ficará para outra ocasião. Agora o meu destino é certo. Respiro aliviada. Ela sorri, me acompanha até a grande porta de vidro e me indica o terminal onde devo pegar o ônibus. A mala está cada vez mais pesada. O corredor do Terminal de Ônibus parece interminável. -“É só pegar o elevador” diz um senhor de meia idade. -“A escada rolante está logo ali” diz uma moça. Estou cansada e não vejo o elevador. Vou pela escada rolante e a mala pesa! Um rapazinho tem pena e se oferece para me ajudar a descer com a mala. Aleluia! Finalmente cheguei no portão de embarque!
Despacho a minha mala e subo no ônibus. Minha poltrona é do lado do corredor. Sento. Nada mais me preocupa, são três horas de viagem e até lá vou fechar os olhos e relaxar. Como se isto fosse possível !!! Na minha frente um senhor de cabelos grisalhos, já no início da viajem, inclina o seu banco totalmente para traz e me deixa prensada… Nem posso esticar as pernas! Ao meu lado uma senhora sentada de pernas cruzadas, muito magra, com cabelo grisalho me dá um sorriso seco! Eu penso: -‘como é que ela consegue cruzar as pernas num espaço tão estreito?’ Me acomodo como posso e o ônibus inicia a sua trajetória. Nem saímos ainda de São Paulo, ela tira os óculos e começa a me contar que só vai passar alguns dias fora, que foi casada, agora é viúva, tem três filhos e relata o que cada um faz. Ela é pianista e eu quero dormir… Fecho os olhos, mas ela está tão empolgada que continua sem se dar conta que fechei os olhos…. E a viagem segue; falta pouco, apenas mais uma horinha… Minha vizinha não parou de falar um minuto sequer. Quando penso que vai se fazer silêncio, o passageiro de trás começa a puxar conversa com o passageiro do lado. Uma voz alta de barítono que acorda todo ônibus. Agora a chance de relaxar está cada vez menor… Ainda bem que trinta minutos passam rapidamente. Finalmente chego ao meu destino. Os passageiros já estão enfileirados, prontos para descer. E, a senhora continua falando atrás de mim. Ela não tem bagagem, bate no meu ombro e diz . – “Tirou uma boa soneca, né! Então, até logo e boa estadia” . Será que não percebeu que eu só estava fingindo! Desço, me dirijo ao bagageiro , pego a minha malinha e me apresso em direção ao carro que acaba de chegar. Estou feliz em rever o rosto querido da minha amada amiga.
ADOREI!!!
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